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Autor(a):

Marcelle Medeiros

marcelle.medeiros@fundacaolacorosa.com

Empresária. Fundadora e Presidente Voluntária da Fundação Laço Rosa. Pós graduada em gestão de projetos sociais e marketing. Conselheira estadual de saúde e integrante do Conselho de Direitos da Mulher da cidade do Rio de Janeiro; Labber 2015; Fellow PFP women empowrment; Vencedora da maratona de negócios sociais do Sebrae. Palestrante em eventos nacionais e internacionais.

Data do Post
25/06/2019
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Assunto delicado

É preciso falar de morte. Fato! E com a mesma coragem que nos impulsiona todos os dias a acreditar que no final tudo vai dar certo. Não é fácil, eu sei. Pensar na possibilidade da morte nos paralisa e aprisiona. É como se pensar sobre esse assunto congelasse dentro de nós todas as certezas de um final feliz e abrisse um chamado secreto para as nossas descrenças se materializarem. Mas  mesmo assim, é preciso falar de morte, principalmente mas não somente, quando alguém que amamos tem câncer. 

Não é falar da morte desejando que o outro vá embora, mas organizando os desejos para o dia que essa hora chegar, o que pode durar séculos ou ser amanhã. O tempo da partida é um relógio que só Deus controla. 

E por que precisamos falar da morte? Primeiro porque é uma oportunidade ímpar de nos aproximarmos ainda mais daqueles que amamos. É no pensamento da partida que exprimimos vontades ocultas e deixamos o amor transbordar. E segundo porque conhecendo os desejos mais íntimos de quem vai partir nós podemos prestar uma última homenagem sincera e de um jeito especial. Por último, mas não menos importante, organizar a parte burocrática nos ajuda a dizer “adeus” e poupa questões delicadas para quem fica como por exemplo, cremar ou enterrar? Flores ou sem flores? Quem fica com o que? Quero ser árvore ou livro? 

No Brasil, como na maioria dos países de origem latina, é um grande tabu falar da morte para quem está vivo, mas nos EUA e outros países da Europa essa consciência já existe e organizações de pacientes abordam esse assunto de forma natural com pacientes e familiares. Lógico que tudo tem o seu tempo e esse é um assunto para ser falado na hora certa de cada pessoa, mas o difícil é saber quando é essa hora principalmente para quem tem câncer. A verdade é que só o coração pode saber o momento certo, mas quando carregamos dentro de nós essa consciência tudo flui mais fácil. 

Eu não falei sobre morte e nem sobre últimos desejos com minhas duas irmaes, que saíram de cena antes de mim,  mas gostaria de ter tido a certeza de uma última homenagem do jeito que elas gostariam e não tive. 

A vida é finita e cabe a nós passar da melhor forma possível pela finitude do tempo daqueles que amamos, então falar de Morte precisa ser um assunto vivo dentro de nós

Vamos que vamos…