CUIDANDO DE CADA PACIENTE, APRENDENDO COM CADA PACIENTE
Todos os anos Chicago/Illinois nos EUA é palco do maior encontro de especialistas em oncologia, promovido pela American Society of Clinical Oncology (ASCO). E a sessão de plenária sempre é uma grande expectativa. Este ano, pela primeira vez, foi discutido acesso aos cuidados em saúde oncológica e como as disparidades em saúde podem e devem ser combatidas com políticas públicas.
Pacientes negros foram capazes de receber tratamento de forma mais oportuna, como resultado da cobertura Medicaid, que por sua vez, proporcionou mais equidade no atendimento. Este estudo muda a prática clínica e serve como prova de conceito de que a política de saúde pode afetar a qualidade do tratamento do câncer e reduzir a disparidade racial.
No Brasil, os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) convivem com grande pressão por parte dos usuários para disponibilizar recursos assistenciais suficientes e adequados. No entanto, não tem sido possível responder a tal demanda o que gera longas filas de espera para alguns procedimentos.
Apesar dos avanços no diagnóstico e terapia, os sistemas de saúde não têm conseguido responder de modo satisfatório às necessidades de saúde das populações e a assistência integral à saúde permanece como um grande desafio, na medida em que é necessário combinar todas as dimensões da vida para a prevenção de agravos e recuperação da saúde. O cuidado oferecido é pontual, descontínuo, voltado às situações emergentes, respondendo às queixas imediatas apresentadas.
As pessoas sob cuidado são obrigadas a percorrer longos e sinuosos caminhos para obter a atenção à sua saúde. Neste sentido, a atenção básica e os diversos níveis de especialidades, apoio diagnóstico e terapêutico, média e alta complexidade precisam operar de modo integrado.
Uma ferramenta que pode auxiliar os gestores de saúde é a Navegação de Pacientes (NP) que é um processo concebido para melhorar atrasos nos cuidados de saúde e abordar as disparidades na saúde. Uma gama de serviços prestados por profissionais de saúde treinados, ditos “navegadores”, ajudam os pacientes a passarem por sistemas de saúde complexos ou fragmentados. A jornada dos pacientes é conhecida, as barreiras são identificadas e eliminadas. Todas as barreiras ao acesso aos recursos de saúde afetam a saúde, a sobrevida em geral e as taxas de mortalidade, e é por isso que a navegação é importante, funcionando como uma grande estratégia de dados para todos os envolvidos no controle do câncer. E pode auxiliar aos gestores de saúde na articulação de recursos e das práticas de saúde entre as unidades de atenção de uma dada realidade, para a condução oportuna, ágil e singular, dos usuários pelas possibilidades de diagnóstico e terapia, em resposta às necessidades de maior relevância, freqüência, visando à coordenação ao longo do contínuo assistencial.
Nossa experiência com NP com câncer de mama no Rio de Janeiro foi apresentada na ASCO 2019 e mostrou a viabilidade desta ferramenta no cenário do SUS, trazendo melhorias na percepção do usuário, tratamento em tempo oportuno e melhor uso dos recursos materiais e humanos disponíveis no sistema de saúde local. Conseguimos elevar o cumprimento da “Lei dos 60 dias” para câncer de mama de 10% para 52% e a taxa de cobertura mamográfica de 14% para 88% . Para estes estudos, as parcerias foram essenciais: Global Cancer Institute, Fundação Laço Rosa e Instituto Avon .
Esperamos influenciar os hospitais e os formuladores de políticas de saúde a adotarem a NP como um serviço regular de saúde para melhorar o cuidado centrado no paciente e levar dignidade ao usuário do SUS.
TORNE O INVISÍVEL EM VISÍVEL E PROMOVA AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS.
Como foi dito no encontro da ASCO 2019: “A injustiça do câncer não é um problema de ciência, um problema de tecnologia ou um problema de genética – é um problema político”, Dr Yousuf Zafar, da Universidade de Duke, Carolina do Norte – EUA.